Agência FAPESP * – O Centro de Química Medicinal (CQMED) iniciou um projeto em parceria com a empresa de biotecnologia Promega para o desenvolvimento de fármacos que possam ser usados contra parasitas.

Sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o CQMED é uma Unidade de Inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). O centro foi criado com apoio da FAPESP por meio do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), em cooperação com o Structural Genomics Consortium (SGC) – consórcio internacional de universidades, governos e indústrias farmacêuticas para acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos.

Segundo o CQMED, a plataforma montada durante o projeto PITE-FAPESP, denominada “Do gene a sondas químicas”, que envolve todos os passos para aceleração da descoberta de fármacos, será utilizada para avaliar a entrada de moléculas em parasitas intracelulares humanos.

Leishmania é um protozoário causador da leishmaniose, doença classificada como tropical negligenciada que prevalece em condições de pobreza. A doença é transmitida pela picada da mosca hematófaga da subfamília flebotomíneos (Phlebotominae).

O desafio no desenvolvimento de medicamentos contra a Leishmania está em determinar os alvos terapêuticos para os fármacos. Alvos terapêuticos são geralmente proteínas cuja inibição levaria à morte do parasita. Outro problema está no fato de o parasita ter uma reprodução lenta dentro dos macrófagos e variar seu metabolismo de acordo com o seu ciclo biológico, o que significa que o alvo terapêutico para o qual o medicamento foi desenhado pode passar longos períodos sem ser expresso no parasita, e, portanto, o medicamento não teria efeito algum.

Os pesquisadores do CQMED tentam solucionar o desafio muito conhecido e pouco explorado de avaliar se as moléculas desenvolvidas estão realmente atingindo a proteína-alvo de estudo dentro do parasita, o qual se encontra dentro das células.

A parceria com a Promega foi estabelecida para auxiliar na solução desse desafio, por ter uma uma técnica bem estabelecida para avaliar se moléculas interagem com as proteínas-alvo em células de mamíferos, chamada ensaio de NanoBRET. Nesse ensaio, as moléculas testadas, quando interagem com a proteína-alvo, deslocam dela uma molécula fluorescente (chamada de tracer), que é previamente adicionada às células e, por proximidade, absorve energia da reação da nanoluciferase fusionada à proteína-alvo com seu substrato, emitindo em outro comprimento de onda.

Portanto, quando a molécula-teste se liga ao alvo, a fluorescência do tracer diminui. No NanoBRET, tanto o tracer como as moléculas-teste precisam vencer a barreira da membrana celular para alcançar o alvo dentro da célula.

Para os estudos com parasitas, como o Leishmania, o desafio é ainda maior: os tracers e as a moléculas-teste precisam atravessar três membranas para chegar ao alvo (a da célula, a do vacúolo onde estão os parasitas e a do parasita) e ainda serem estáveis em ambientes químicos diferentes (veículo, citoplasma da célula, vacúolo e meio intracelular do parasita).

O projeto conta com a coordenação cientifica de Rafael Couñago, coordenador científico do CQMED (Unicamp), e de Matt Robers e Jean-Luc Vaillaud, ambos da Promega. A pós-doutoranda sênior do projeto, Carolina Catta-Preta, juntou-se à equipe recentemente trazendo seu conhecimento em Leishmania de seu doutorado no Instituto Carlos Chagas Filho (UFRJ) e pós-doutorado nas universidades de Glasgow e de York.

* Com informações da assessoria de comunicação do CQMED.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.