“O jeito de defender esse patrimônio [a Unicamp] é fazer com que ele sirva às pessoas”, argumenta o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, em visita a uma das unidades Embrapii na Unicamp, o Centro de Química Medicinal (CQMED). A visita ocorreu  na tarde da última terça-feira (20) e o intuito foi entender como funciona uma Unidade Embrapii e como atraem parcerias com o setor privado. As unidades Embrapii (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) são instituições de pesquisa credenciadas para fazer parcerias com o setor industrial visando o desenvolvimento de inovações tecnológicas.

“No modelo de financiamento da Embrapii, todas as partes compartilham recursos, atividades de pesquisa e desenvolvimento e o risco inerente da fase pré-competitiva da inovação”, explica Katlin Massirer, coordenadora do CQMED. O objetivo é estimular o setor industrial a inovar mais e com maior intensidade tecnológica para, assim, potencializar a força competitiva das empresas tanto no mercado interno como no mercado internacional.

O Centro de Química Medicinal é um laboratório ligado ao Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e conta também com a participação de professores do Instituto de Biologia, ambos da Unicamp. O propósito do centro é entender como funcionam as proteínas relacionadas à doenças humanas e encontrar moléculas com potencial de se tornarem novos medicamentos. O centro também desenvolve biotecnologias e diagnósticos, baseados na produção de proteínas.

Um dos exemplos apresentados na visita foi a mobilização do CQMED para atender a demanda nacional de insumos para teste de saliva durante a pandemia de COVID-19. “Nós desenvolvemos o protocolo de produção das proteínas do teste, produzimos os insumos e ensinamos a empresa como aplicá-lo, quando o país vivia a carência destes insumos na pandemia”, explicou Massirer. Outro projeto relacionado à saúde pública é uma nova tecnologia de diagnóstico remoto para doenças como dengue e chikungunya. “Estamos aprimorando o diagnóstico para que o equipamento da empresa leia os testes com os reagentes que desenvolvemos”, explicou a coordenadora do Centro. Assim que estiver pronto, o usuário terá o laudo de laboratório em até 30 minutos em qualquer parte do país que tenha internet.

Além disso, Meirelles conheceu como é o processo de investigação das proteínas relacionadas a doenças humanas – como cânceres e leishmaniose – e os desafios da busca e aprimoramento de moléculas que podem potencialmente se tornar medicamentos.

O CQMED foi criado em 2015 por meio de uma parceria com o consórcio internacional que atua na busca de moléculas para tratamento de doenças pouco conhecidas. Em 2017 o centro se credenciou como unidade Embrapii, para favorecer a parceria com empresas no setor farmacêutico e de biotecnologia e, no mesmo ano, integrou o programa de INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia), para avançar com parcerias com outras instituições de pesquisa nacionais e internacionais.

Para administrar toda a infraestrutura de pesquisa e gestão de aproximadamente 30 pessoas, entre pesquisadores, pós-doutorandos, alunos de mestrado e doutorado, técnicos, o CQMED investiu em uma equipe própria de administração. Atualmente conta com um profissional dedicado à prospecção de novas parcerias. Há uma área de gestão de projetos e de laboratório que abarca acompanhamento de convênios, recursos humanos, recursos financeiros mistos (públicos e privados) e controle de compras e estoque. A área de tecnologia da informação é responsável pela infraestrutura de servidores, backup, suporte e softwares. Além disso, há também uma área de comunicação que desenvolve atividades de divulgação científica para diferentes públicos.

Para Meirelles, o grande desafio é difundir experiências como as do CQMED. Não apenas na Unicamp, mas em todas as universidades como um caminho para acelerar o processo de inovação. Um dos horizontes apontados por Meirelles é o projeto HIDS que atualmente envolve 14 instituições e conta com o apoio da prefeitura de Campinas. “A ideia é fazer um distrito de inovação, ou seja, a universidade com a empresa. É criar um polo que esteja voltado para a questão de transformar rapidamente ciência e tecnologia em inovação”, acrescenta o reitor.

Foto: João Marques